Santa
Gertrudes, irmã de Santa Mechtilde ou Matilde, nasceu em Islebe, na alta
Saxônia. Eram elas condessas de Hackborn, parentes próximas do imperador
Frederico II. Levadas às beneditinas de Rodersdorf, na diocese de Halberstadt,
ali tomaram o hábito.
Gertrudes
foi feita abadessa do mosteiro, em 1294. No ano seguinte, encarregou-se do
governo do mosteiro de Heldelfs, onde se retirara com as religiosas. Tendo
aprendido latim na juventude, como então se fazia naquele tempo, escrevia muito
nem nessa língua; daí a facilidade que encontrou para interpretar as Sagradas
Escrituras, das quais tinha conhecimento pouco comum, e progredir nas ciências
que tinham a religião como objeto.
Da
oração e da contemplação, todavia, fazia Gertrudes o principal exercício, e a elas
dedicava grande parte do tempo. A santa governava sobretudo de meditar sobre a
Paixão e sobre a Eucaristia. As lágrimas que a inundavam, não as podia reter.
Quando falava de Jesus Cristo e dos mistérios de sua vida adorável, fazia-o com
tal unção e tão vivos transportes de amor, que arrebatava a quem a ouvisse. Era
habitualmente favorecida com dons extraordinários, quando orava. Os
arrebatamentos, os êxtases eram-lhe, por assim dizer, familiares.
Um
dia, cantando na igreja: Eu vi o Senhor face a face, viu um como rosto de
beleza indescritível, todo luminoso, cujos raios, abrasando-lhe o coração, lhe
transmitiram delícias que nenhuma língua jamais poderia exprimir.
O
amor divino que a queimava e consumia parecia ser o único princípio de suas
afeições e de suas ações. Daí o inteiro afastamento do mundo e das vaidades.
Domou a carne e destruiu tudo aquilo que porventura pudesse opor-se ao reino
perfeito de Jesus Cristo, pela prática da obediência e pela renúncia da própria
vontade, pelas vigílias, pelos jejuns e abstinências. Era, tudo isso, o
fundamento das virtudes admiráveis, virtudes que o Senhor se dignou dar-lhe.
Em
si mesma, só procurava o que era imperfeição, para aperfeiçoar-se,
transmudando-se. Desejava ser desprezada pelos outros, tanto desprezava a si
mesma. Costumava dizer que um dos maiores milagres da bondade divina era o de
respirar ainda sobre a terra, tão imperfeita se achava.
Longe
de ser deslumbrada pela qualidade de superiora, comportava-se como se fora a
última servidora do mosteiro. Julgava-se mesmo indigna de aproximar-se das
irmãs.
O
amor que votava à contemplação não a fizera negligenciar os deveres comuns,
pois lhe cabia o cuidado das filhas que governava, às quais devia prover nas
necessidades, tanto do corpo como da alma.
Seu
amor por Jesus Cristo; todos os dias, pela manhã pedia-lhe proteção. As almas
que sofrem no purgatório eram-lhe também objeto de caridade. Sem cessar, com
muito fervor, suplicava a Deus lhes desse logo a paz do refrigério, junto aos
justos.
Santa
Gertrudes traçou o verdadeiro retrato da alma no livro de suas Revelações. São
as suas comunicações com Deus e os seus transportes de amor. Esta obra, depois
da de Santa Teresa, é talvez a mais útil aos contemplativos e a mais apropriada
para nutrir a piedade nas almas.
Santa
Gertrudes propôs diversos exercícios para que se caminhe à perfeição. O que ela
prescreve pela renovação dos votos do batismo tem por objetivo levar a alma a
renunciar inteiramente ao mundo e a si mesma, a se consagrar ao puro amor de
Deus, cumprindo-lhe a vontade em tudo. Os temas, desenvolve-se com sublimidade
e solidez. Pede a Deus que possa morrer para ela mesma, para nele ser
sepultada, de modo que só Ele lhe conheça o túmulo. Não quero ter outras
funções senão aquelas do amor ou que o amor dirige. Tais sentimentos são
repetidos com uma admirável variedade em diversas passagens das Revelações.
Na
última parte, a Santa fixa-se principalmente nos ardorosos desejos de ser o
mais cedo possível unida ao objeto de seu amor na glória eterna. Pede ao
Salvador que a faça, por sua infinita misericórdia, tal qual tenha que ser para
poder estar, um dia, na glória com Ele. Os suspiros pelos quais exprime o ardor
dos desejos de se unir a Deus na beatitude são, na maior parte, tão celestes,
que não se acredita sejam dum mortal, mas de habitantes dos céus.
Que
poderíamos dizer da castidade de Santa Gertrudes? Nenhuma esposa de Jesus
Cristo jamais levou tão longe as precauções próprias para conservar a pureza da
alma e do corpo.
Afinal,
chegou-lhe o momento pelo qual suspirava: reunir-se ao divino Esposo. Faleceu a
Santa em 1334, depois de ter sido, por quarenta anos, abadessa. Sua última
doença não foi, pode dizer-se, mais do que um langor do amor divino, tais foram
deliciosas e inefáveis as consolações que lhe inundaram a alma. Muitos milagres
atestaram que sua morte fora preciosa diante do Senhor.
Vida
dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XX, p. 21 à 24
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