• quarta-feira, 16 de março de 2016

    Santa Gertrudes, Abadessa

    Santa Gertrudes, irmã de Santa Mechtilde ou Matilde, nasceu em Islebe, na alta Saxônia. Eram elas condessas de Hackborn, parentes próximas do imperador Frederico II. Levadas às beneditinas de Rodersdorf, na diocese de Halberstadt, ali tomaram o hábito.
    Gertrudes foi feita abadessa do mosteiro, em 1294. No ano seguinte, encarregou-se do governo do mosteiro de Heldelfs, onde se retirara com as religiosas. Tendo aprendido latim na juventude, como então se fazia naquele tempo, escrevia muito nem nessa língua; daí a facilidade que encontrou para interpretar as Sagradas Escrituras, das quais tinha conhecimento pouco comum, e progredir nas ciências que tinham a religião como objeto.

    Da oração e da contemplação, todavia, fazia Gertrudes o principal exercício, e a elas dedicava grande parte do tempo. A santa governava sobretudo de meditar sobre a Paixão e sobre a Eucaristia. As lágrimas que a inundavam, não as podia reter. Quando falava de Jesus Cristo e dos mistérios de sua vida adorável, fazia-o com tal unção e tão vivos transportes de amor, que arrebatava a quem a ouvisse. Era habitualmente favorecida com dons extraordinários, quando orava. Os arrebatamentos, os êxtases eram-lhe, por assim dizer, familiares.
    Um dia, cantando na igreja: Eu vi o Senhor face a face, viu um como rosto de beleza indescritível, todo luminoso, cujos raios, abrasando-lhe o coração, lhe transmitiram delícias que nenhuma língua jamais poderia exprimir.
    O amor divino que a queimava e consumia parecia ser o único princípio de suas afeições e de suas ações. Daí o inteiro afastamento do mundo e das vaidades. Domou a carne e destruiu tudo aquilo que porventura pudesse opor-se ao reino perfeito de Jesus Cristo, pela prática da obediência e pela renúncia da própria vontade, pelas vigílias, pelos jejuns e abstinências. Era, tudo isso, o fundamento das virtudes admiráveis, virtudes que o Senhor se dignou dar-lhe.
    Em si mesma, só procurava o que era imperfeição, para aperfeiçoar-se, transmudando-se. Desejava ser desprezada pelos outros, tanto desprezava a si mesma. Costumava dizer que um dos maiores milagres da bondade divina era o de respirar ainda sobre a terra, tão imperfeita se achava.
    Longe de ser deslumbrada pela qualidade de superiora, comportava-se como se fora a última servidora do mosteiro. Julgava-se mesmo indigna de aproximar-se das irmãs.
    O amor que votava à contemplação não a fizera negligenciar os deveres comuns, pois lhe cabia o cuidado das filhas que governava, às quais devia prover nas necessidades, tanto do corpo como da alma.
    Seu amor por Jesus Cristo; todos os dias, pela manhã pedia-lhe proteção. As almas que sofrem no purgatório eram-lhe também objeto de caridade. Sem cessar, com muito fervor, suplicava a Deus lhes desse logo a paz do refrigério, junto aos justos.
    Santa Gertrudes traçou o verdadeiro retrato da alma no livro de suas Revelações. São as suas comunicações com Deus e os seus transportes de amor. Esta obra, depois da de Santa Teresa, é talvez a mais útil aos contemplativos e a mais apropriada para nutrir a piedade nas almas.
    Santa Gertrudes propôs diversos exercícios para que se caminhe à perfeição. O que ela prescreve pela renovação dos votos do batismo tem por objetivo levar a alma a renunciar inteiramente ao mundo e a si mesma, a se consagrar ao puro amor de Deus, cumprindo-lhe a vontade em tudo. Os temas, desenvolve-se com sublimidade e solidez. Pede a Deus que possa morrer para ela mesma, para nele ser sepultada, de modo que só Ele lhe conheça o túmulo. Não quero ter outras funções senão aquelas do amor ou que o amor dirige. Tais sentimentos são repetidos com uma admirável variedade em diversas passagens das Revelações.
    Na última parte, a Santa fixa-se principalmente nos ardorosos desejos de ser o mais cedo possível unida ao objeto de seu amor na glória eterna. Pede ao Salvador que a faça, por sua infinita misericórdia, tal qual tenha que ser para poder estar, um dia, na glória com Ele. Os suspiros pelos quais exprime o ardor dos desejos de se unir a Deus na beatitude são, na maior parte, tão celestes, que não se acredita sejam dum mortal, mas de habitantes dos céus.
    Que poderíamos dizer da castidade de Santa Gertrudes? Nenhuma esposa de Jesus Cristo jamais levou tão longe as precauções próprias para conservar a pureza da alma e do corpo.
    Afinal, chegou-lhe o momento pelo qual suspirava: reunir-se ao divino Esposo. Faleceu a Santa em 1334, depois de ter sido, por quarenta anos, abadessa. Sua última doença não foi, pode dizer-se, mais do que um langor do amor divino, tais foram deliciosas e inefáveis as consolações que lhe inundaram a alma. Muitos milagres atestaram que sua morte fora preciosa diante do Senhor.

    Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XX, p. 21 à 24

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