• domingo, 14 de junho de 2015

    Tua fé é de ouro!

    No recôndito vale de Fern, em pleno coração do Tirol austríaco, encontra-se uma pitoresca aldeia que no período do inverno sofre rigorosas temporadas. Situada junto do lago Blindsee, dela se contemplam esplêndidos panoramas, tendo por fundo de quadro o impressionante Zugspitze, a montanha mais alta da Alemanha.
    Ali vivia o Dr. Roberto, um jovem cirurgião muito respeitado em toda a região por sua competência profissional. O hábil doutor, porém, vivia afastado da Religião e isso entristecia muito a seus vizinhos. Ademais, eles conheciam a grande dor que levava em seu coração: Pedro, seu filho único, a quem amava ternamente, sofria de uma paralisia no lado direito do corpo que havia desafiado todos os esforços e a ciência de seu pai. Sob os cuidados maternais de dona Margarida, excelente esposa e ama de casa, o menino crescia privado das brincadeiras comuns às crianças de sua idade.
    Todos os anos, no verão, a família planejava alguma viagem para distrair o pequeno enfermo.

    — Margarida, estive pensando em viajarmos para a Suíça nestas férias. O nosso Pedro precisa mudar um pouco de ambiente.
    — Sim. É bom que ele conheça outros países. Parece-me uma ótima ideia!
    — Perfeito. Partiremos nesta semana.
    Decidido o destino, deram a notícia a Pedro e começaram os preparativos para a viagem. Dr. Roberto mandou verificar seu automóvel para certificar-se de que tudo estava em ordem, e no dia combinado começaram o percurso.
    Depois de duas jornadas... Pum! O carro parou na estrada! Um mecânico veio socorrê-los e, após revisar a fundo o veículo, declarou que seriam necessários três dias para consertá-lo. Não restava outra opção senão hospedar-se na cidade mais próxima, onde — por coincidência — havia um famoso Santuário no qual era venerada uma milagrosa imagem de Nossa Senhora. Instalados no hotel onde passariam aqueles três dias, e já alojados em seus aposentos, foram descansar após um dia cheio de preocupações.
    Na manhã seguinte, encontrava-se Pedro no jardim da hospedagem contemplando alguns belos postais que seu pai lhe comprara, enquanto sua mãe conversava com a recepcionista. Em certo momento, aproximou-se outro menino de sua mesma idade.
    — Eu também tenho alguns bonitos postais. Toma, te dou este!
    Começaram a conversar e logo se tornaram amigos. José era filho do jardineiro e explicou-lhe as singularidades das plantas que ali cresciam. Pedro, por sua vez, contou-lhe que havia visitado muitos médicos, mas não tinha conseguido curar-se. Então José, tomado de afeto por seu novo amiguinho, perguntou-lhe:
    — Por que tu não pedes a seus pais para te levarem ao Santuário?

    Lá, Nossa Senhora faz muitos milagres.
    Um raio de esperança irrompeu com força no coração do menino. Contudo, disse tristemente:
    — Meu pai não me deixará ir.
    — Então, pede para tua mãe!
    O aleijadinho ficou em silêncio. Bem sabia que por mais que dona Margarida insistisse, jamais o Dr. Roberto permitiria que seu filho pisasse numa igreja, e menos ainda para pedir um milagre...
    No dia seguinte, José voltou a perguntar-lhe:
    — Já pediste licença à tua mãe?
    — Sim, mas o problema é meu pai. Diz ser pura imaginação tudo isso que tu dizes que acontece no Santuário.
    Então o filho do jardineiro idealizou um plano.
    — Amanhã, às cinco da madrugada, eu venho te buscar. Trarei o carrinho de mão de meu pai e te levarei nele ao Santuário. Precisamos ser bem espertos para não acordar nenhum adulto. Se não fizermos barulho, não se perceberá nada. E antes das oito já estaremos de volta ao hotel. Queres?
    — Claro que quero!
    — Mas, por favor, não digas nada a ninguém! Aliás, sabes rezar?
    — Não... — Então vou te ensinar. Toma este terço e vai passando as bolinhas pelos dedos. Nas contas grandes dirás: “Rainha do Céu, tende piedade deste filho doente”; e, nas pequenas: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco...”.
    Pedro passou a noite quase sem poder dormir, rezando às escondidas segundo havia aprendido. Às cinco da madrugada, chegou seu amigo e, alguns minutos depois, um carrinho de mão, empurrado por esta criança esperta e cheia de fé, subia pela rampa que leva ao Santuário.
    Chegando à porta do templo, José ajuda seu companheiro doente a descer e o leva para diante do altar de Nossa Senhora, onde um sacerdote se preparava para rezar a costumeira Missa pelos doentes. Pedro nunca havia assistido a uma Missa!
    O cerimonial litúrgico, as velas acesas nos castiçais de prata, as leituras proclamadas com piedosa solenidade causaram-lhe um forte impacto na alma. Chegado o momento da Consagração, ouviu José sussurrar-lhe ao ouvido:
    — Agora tens que ajoelhar... Embebido pela sacralidade do ambiente e intuindo que algo de muito importante ia acontecer, o pequeno paralítico se ajoelha... esquecendo-se de sua impossibilidade! Por um instante os amiguinhos se entreolham admirados, e logo fitaram a Sagrada Hóstia, adorando a Jesus ali presente nas mãos do sacerdote.
    Terminada a Missa, José diz a Pedro:
    — Levanta-te e vamos para junto da Virgem. Tu estás curado!
    Já caminhando sem dificuldade, Pedro se dirige com José para junto do altar onde, com lágrimas nos olhos, as duas crianças dão graças a Nossa Senhora, antes de voltar para o hotel.
    Enquanto isso acontecia, Dr. Roberto se despertou e, encontrando a cama do filho vazia, começou a procurar por ele, aflito... Até que, estando no saguão, viu Pedro entrar pela porta, caminhando tranquilamente, sem o auxílio de ninguém.
    Comovido, ao saber o que acontecera, Dr. Roberto virou-se para o filho do jardineiro e exclamou:
    — José, tua fé é de ouro!
    Ao que ele respondeu de imediato:
    — Não a mim, mas à Virgem deveis agradecer.
    Caindo de joelhos, o incrédulo médico abraçou o filho e, chorando de emoção, dirigiu-se sem mais delongas ao Santuário, com a esposa e o menino, para agradecer a Maria Santíssima o milagre que acabava de se operar, pela grande fé das duas crianças.

    Revista ArautosdoEvangelho – Junho 2013

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