Santa Teresa de
Jesus é uma verdadeira mestra de vida cristã para os fiéis de todos
os tempos. Ela nos ensina a ser incansáveis testemunhas de Deus, da sua
presença e da sua ação. (Bento XVI)
Tudo que se tem
a dizer sobre Teresa Sanchez Cepeda D'Ávila y Ahumada é extraordinário. Ela
viveu e ensinou a oração pessoal como sendo a busca de uma intimidade maior com
Deus. Escreveu como um poeta, cantando as glórias do Senhor do Céu e da Terra,
depois de ter convivido misticamente com Ele. Reformou e aperfeiçoou o estilo
de vida religiosa. Foi doutora em matéria de religião e de religiosidade.
Ultrapassando os limites de si mesma, ela foi mais além: foi Santa. E uma
grande Santa. Por isso mesmo é que ela é chamada de Teresa, a Grande.
O legado de
Teresa
Teresa D'Ávila,
Teresa de Jesus ou Teresa, a Grande, nasceu na região de Castela (Espanha), em
Ávila, uma cidade medieval cercada por muralhas de pedras grandes e claras que
se tornam douradas quando o sol está se pondo. Ela era a terceira filha do
casal Alonso Sanchez Cepeda com Beatriz D'Ávila y Ahumada e tinha vários
irmãos, porque Dom Alonso teve três filhos em um primeiro casamento e outros
nove de seu casamento com Dona Beatriz. Era da pequena nobreza. Nasceu em 28 de
março de 1515.
A reforma do
Carmelo e sua experiência metódica da oração pessoal na busca de uma intimidade
com Deus formam seu maior legado deixado para os fiéis da Santa Igreja.
Com seu irmão,
uma fuga frustrada
Desde menina
Teresa gostava de ler história da vida de santos. Acompanhava-lhe neste gosto
seu irmão Rodrigo que tinha idade próxima da dela. Os dois admiravam em
conjunto a coragem e heroísmo dos santos na luta pela conquista da gloria
eterna. E porque os admirava, os dois tinham seus pensamentos sempre colocados
na eternidade onde os bem-aventurados já viviam.
Ao conhecer a
vida dos mártires, julgaram que eles tinham conseguido ir para o céu com muita
facilidade. Estavam tão certos disso que decidiram partir para o país dos
mouros: ali, com certeza, seriam martirizados, morreriam defendendo a fé e
estariam logo no céu, mais facilmente que de qualquer outro modo...
Então os dois
decidiram fugir de casa. Pediram a Deus que lhes concedesse a graça de dar a
vida por Cristo e partiram a procura de quem os martirizasse.A aventura das
duas crianças durou pouco. Estavam ainda próximo de Ávila, em Adaja, quando
foram vistos por um de seus tios que as conduziu novamente para junto da aflita
mãe.
A culpa de tudo
recaiu sobre Teresa. Quando foram repreendidos pela mãe, Rodrigo acusou a irmã
de ter sido a idealizadora do plano frustrado. Mas os dois não se separaram e
nem esqueceram seu ideal: eles resolveram viver como eremitas. Sem nunca
conseguir, pensavam construir suas celas nos jardins da casa e lá viver na
solidão.
Outra fuga, após
a morte da mãe
Dona Beatriz
morreu quando Teresa tinha quatorze anos: "quando me dei conta da perda
que sofrera, comecei a entristecer-me. Então me dirigi a uma imagem de Nossa
Senhora e supliquei com muitas lágrimas que me tomasse como sua filha",
disse ela. Aos quinze anos Dom Alonso levou Tereza para estudar no Convento das
Agostinianas de Ávila.
Um ano depois,
seu pai foi buscá-la. Uma doença a impedia de continuar vivendo ali. Por essa
ocasião foi que a jovem viu nascer em seu coração uma forte atração para a vida
religiosa passando a pensar seriamente nisso. Mas ela tinha dúvidas quanto a
decisão a tomar. A vida religiosa a atraia e assustava, ao mesmo tempo.
Foi a leitura
das "Cartas", de São Jerônimo que lhe ajudou na decisão. Ela
comunicou seu desejo ao pai e ele recomendou que a filha aguardasse a morte
dele para depois procurar um convento. Mas não foi bem isso o que aconteceu.
Numa madrugada, tendo já 20 anos, a futura santa fugiu para o Convento de La
Encarnación, em Ávila, com a intenção de não voltar mais para casa.
Início da Vida
Religiosa
E Teresa ficou
no Convento da Encarnação. Dom Alonso viu que sua vocação era séria e não mais
colocou objeção à entrada dela na vida religiosa. Um ano depois de sua entrada
no Carmelo, ela emitiu seus votos, tornando-se Carmelita.
Uma grave
enfermidade fez com que seu pai a levasse de volta para casa afim de que
pudesse ser tratada de uma enfermidade que novamente lhe havia atacado. Mas os
médicos não conseguiram debelar a doença que logo se agravou. Teresa suportou
aquele sofrimento, graças a um livrinho que lhe fora dado de presente por seu
tio Pedro: "O terceiro alfabeto espiritual", de autoria de um Padre
chamado Francisco de Osuna. Ela seguiu as instruções do pequeno livro que a
introduziu na pratica da oração mental.
Depois de passar
três anos em casa, ela recuperou a saúde e retornou ao Carmelo. Levou consigo
as ideias contidas no livreto do Padre Francisco.
Como eram os
mosteiros...
Costumes
inconvenientes e nada edificantes espalharam-se pelos conventos espanhóis da
época de Teresa. Um desses costumes era de que as religiosas podiam receber
todos os visitantes que desejassem, a qualquer hora.
Teresa também
foi vítima desse costume: passava grande parte de seu tempo conversando no
locutório do mosteiro. Isto a levou ao descuido com as orações, sobretudo
descuidava-se da oração mental. Muitas vezes ela encontrava desculpas para esse
relaxamento em suas enfermidades. Suas doenças justificariam suas falhas nesse
ponto ou... a impediam de meditar. E isso ela praticava sem susto nenhum.
Foi o confessor
de Teresa que lhe mostrou o perigo em que se encontrava sua alma e aconselhou-a
a voltar à prática intensiva das orações. Embora ainda não tivesse decidido a
entregar-se totalmente a Deus, levando uma vida de contemplativa, e não tivesse
renunciado totalmente as horas que passava no locutório, conversando e trocando
presentes com seus visitantes, ela acatou o conselho de seu confessor e deu
mais atenção à vida de oração, voltando a meditar.
"Foram tuas
conversas no parlatório..." - nova conversão
Com o novo modo
de vida de oração, ela acabou, aos poucos compreendendo seus defeitos e como
era "indigna". Por isso invocava com frequência grandes santos
penitentes, sobretudo Santo Agostinho e Santa Maria Madalena. A eles estão
associados dois fatos que foram decisivos na vida da santa.
O primeiro deles
foi a leitura das "Confissões" do Bispo de Hipona. O segundo foi um
chamado à penitência que ela sentiu quando rezava diante de um quadro
representando a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Senti que Santa
Maria Madalena vinha em meu socorro ... e desde então progredi muito na vida
espiritual", afirmou Teresa.
Ela sentia-se
muito atraída pelas imagens de Cristo ensanguentado, em agonia. Em certa
ocasião, estando aos pés de um crucifixo que trazia marcas das chagas de Cristo
e muito sangue, ela perguntou: "Senhor, quem vos colocou aí?" E
pareceu-lhe ouvir uma voz que vinha do crucificado: "Foram tuas conversas
no parlatório que me puseram aqui, Teresa".
Ela chorou muito
e a partir de então não voltou a perder tempo com conversas inúteis e com as
amizades que não a levavam à santidade. Era uma mudança de vida radical,
"orientada" pelos céus, algo muito próprio para quem iria tornar-se
uma das maiores místicas da Igreja.
Os mosteiros
precisavam ser reformados?
Como a maioria
das religiosas, já desde os princípios do século XVI, as carmelitas também já
tinham perdido o "fervor de noviço" dos primeiros tempos. Os
locutórios dos conventos de Ávila eram uma espécie de centro de reunião para
damas e cavalheiros da cidade. Por qualquer pretexto, mesmo sendo
contemplativas, as religiosas deixavam a clausura. Os conventos passaram a ser
lugares ideais para quem desejava uma vida fácil e sem problemas.
As comunidades
eram tão grandes quanto habitualmente relaxadas. O Convento da Encarnação
possuía quase 200 religiosas. A questões das conversas nos parlatórios, da
quebra de clausura das religiosas e do desprezo pela oração eram os aspectos
mais salientes e visíveis. Havia também outros pontos decadentes.
Uma situação
anormal, tida como normal
Já que esta
situação era tida como normal, as religiosas não se davam conta de que o seu
modo de vida estava muito distante do espírito de seus fundadores. De fato, uma
reforma era necessária. E ela tornara-se urgente.
Teresa haveria
de levar avante esse grandioso empreendimento. E isso não foi uma tarefa fácil.
Logo no início dela as incompreensões foram enormes, as desconfianças se
espalharam e os comentários e as oposições cresceram, sobretudo da parte dos
que eram atingidos... Teresa foi criticada pelos nobres, pelos magistrados,
pelo povo e até por suas próprias irmãs. Apesar disso tudo, o sacerdote
dominicano Padre Ibañez incentivou Teresa a prosseguir seu projeto.
Se a reforma não
fosse uma obra querida por Deus e se não tivesse no seu início o apoio de
santos como São Pedro de Alcântara, São Luís Beltran, de Bispos como Dom
Francisco de Salcedo e de sacerdotes como o Padre Gaspar Daza e o Padre Bañez
essa obra não teria vingado, morreria em seu nascedouro. Teresa tinha total
razão quando em certa ocasião disse: "Teresa sem a graça de Deus é uma
pobre mulher; com a graça de Deus, uma fortaleza; com a graça de Deus e muito
dinheiro, uma potência".
Reforma nos
conventos - Reforma em toda vida religiosa
A Reformadora do
Carmelo, a princípio, não aceitava comunidades com mais de treze religiosas.
Mais tarde, nos conventos que tinham possibilidades de obter alguma renda, ela
aceitou que nele residissem vinte monjas. Isso era o começo. Para concretizar e
aprofundar a Reforma, era necessário algo mais. Além do relacionamento entre os
homens, era necessário pensar no mais importante: o relacionamento com Deus. E
Teresa foi exímia nesse ponto.
Oração vocal,
meditação, recolhimento
Santa Teresa
aprendeu a prática da oração vocal com as irmãs agostinianas durante deu
convívio com elas e utilizou bastante esse modo perfeitamente legítimo de
rezar. Porém, ela via no seu uso certos modos de proceder que poderiam ser
criticados.
Em seu
entendimento, ao rezar, deveria pensar-se com mais afinco no que se diz e não
apenas recitar muitas fórmulas, quase maquinalmente, apenas mexendo com os
lábios, sem meditação, como tinha tornado costume fazer-se já em sua época.
Segundo o que ensinou Teresa, a melhor forma de oração, o mais eficaz modo de
rezar seria uma oração de recolhimento. Nesse modo de rezar o espírito deve
esvaziar-se de si mesmo, a imaginação e o entendimento calar-se, e então,
aprende-se a amar a Deus.
Em seu modo de
rezar, ela se fixa no pensamento meditativo dos mistérios da humanidade de
Cristo, no seu sofrimento redentor e amoroso e, pouco a pouco, abandona seu
próprio ser e seu espírito, desinteressando-se de si mesmo. A alma vive e vê
tudo isso. É uma forma de oração ativa, laboriosa, voluntária e perseverante.
Numa palavra, contemplativa.
"Não sabeis
o que é oração mental, nem como se faz a vocal, nem o que é
contemplação..."
Falando para
suas irmãs do Carmelo, Teresa ensinava-lhes a rezar e dava-lhes recomendações.
De certa feita, ela ensinou a suas irmãs como rezar, como elevar suas almas a
Deus:
"Comecemos
por nos perguntar a quem vamos falar, e quem somos. Não podemos dirigir a um
príncipe de modo tão informal quanto a um trabalhador ou a pobres criaturas
como nós, a que se pode falar de qualquer jeito, e sempre está muito bem!"
"Dirige a
Deus cada um dos teus atos, oferece-os e pede-lhe que seja com grande fervor e
desejo de Deus. Em todas as coisas, observa a providência de Deus e sua
sabedoria. Em tudo, envia-lhe o teu louvor.
Em tempo de
tristeza e de inquietação, não abandones nem as boas obras de oração, nem a
penitencia a que estás habituada. Antes as intensifica. E verás com que
"prontidão o Senhor te sustenta."
"Que teu
desejo seja ver Deus. Teu temor, perdê-lo. Tua dor, não te comprazeres na sua
presença. Tua satisfação, o que pode conduzir-te a ele. E viverás numa grande
paz."
"Quem
verdadeiramente ama a Deus, ama tudo o que é bom, quer tudo o que é bom,
favorece tudo o que é bom; louva todo o bem, com os bons se junta sempre, para
apoiá-los e defendê-los. Em uma palavra, só ama a verdade e o que é digno de
ser amado."
"Quando
recito o Pai-nosso, será um sinal de amor lembrar quem é esse Pai e também quem
é o Mestre que nos ensinou essa oração. "Ò meu Senhor, como vos mostrais
Pai de tal Filho, e como vosso Filho revela que veio de tal Pai. Bendito seja
para sempre.
"Deixemos a
terra, minhas filhas; não é justo que apreciemos tão mal um favor como esse, e
que, depois de ter compreendido sua grandeza, continuemos sobre a terra."
(Orações e recomendações de Santa Teresa, extraídas do livro: "Orar com
Santa Teresa de Ávila - Edições Loyola - 1987.)
Uma mística
recolhida e ativa
A grande mística
Teresa não descuidava das coisas práticas. Sabia utilizar as práticas materiais
para o serviço de Deus. Tinha uma vida interior que era o motor de suas
atividades. Era dela a "equação": vontade de Deus, mais dois ducados,
mais Teresa, igual a sucesso.
Certo dia
encontrou-se em Medina del Campo com dois frades carmelitas que estavam
dispostos a abraçar a Reforma: Frei Antonio de Jesús de Heredia, superior, e
Frei Juan de Yepes, que seria o futuro São João da Cruz. Com eles começou a
estender a Reforma também para o ramo masculino da Ordem do Carmo.
Aproveitando a
primeira oportunidade, ela fundou um pequeno convento de frades em Duruela, em
1568 e no ano seguinte fundou o de Pastrana. Nos dois reinavam a pobreza e
austeridade, o recolhimento, a vida de religião. Outros conventos e mosteiros
foram surgindo. Santa Teresa deixou que as novas fundações ficassem a cargo de
São João da Cruz.
Lutas, separação
e alcance
Depois de muitas
lutas, incompreensões e perseguições, obteve de Roma uma ordem superior que
estabelecia uma separação dentro da Ordem do Carmo: os Carmelitas Descalços não
estariam mais sob a jurisdição do Provincial dos Calçados.
Na época dessa
separação, 1580, Santa Teresa tinha 65 anos e sua saúde já estava muito
debilitada. Isto não impediu que ela ainda fundasse outros dois conventos de
cumprimento exímio das regras. Os mosteiros fundados sob inspiração da reforma
influenciada por Teresa -é bom que se ressalte isso-- não eram simplesmente um
refúgio, um descanso para as almas contemplativas, cumpridoras das regras e que
procuravam apenas a santificação pessoal.
Eles sempre
foram uma "escola de amor de Deus" que se espalhava não só pelos
outros mosteiros, mas que influenciavam almas fora deles. O viver a vida
religiosa reformada influenciou a vida para além dos muros dos mosteiros. Um
novo estado de espírito difundiu-se pela sociedade toda.
Nos mosteiros a
ação de Teresa teve uma outra consequência também muito importante: fez nascer
uma espécie desejo de reparação pelos males e destroços causados nos mosteiros
pelo pela revolução protestante em todos os lugares, porém, mais especialmente
na Inglaterra e Alemanha.
Recolhida e
ativa até o fim
Em sua vida, o
recolhimento, a atividade e as dificuldades eram inseparáveis. Na última de
suas fundações, o mosteiro de Burgos, as dificuldades não diminuíram. Quando o
convento já ia com suas obras adiantadas, em julho de 1582, Santa Teresa tinha
intenção de retornar a Ávila. Porém foi forçada a mudar seus planos e
dirigindo-se para Alba de Tormes. Pretendia visitar a duquesa Maria Henríquez.
A viagem não estava bem programada e a Santa estava tão fraca que desmaiou no
caminho. Chegando a Alba, Teresa piorou.
Três dias depois
ela disse à Beata Ana de São Bartolomeu, sua acompanhante na viagem:
"Finalmente, minha filha, chegou a hora de minha morte".
O Pe. Antônio de
Heredia foi quem ministrou-lhe os últimos sacramentos. Quando ele levou-lhe o
viático, a Santa conseguiu erguer-se do leito e todos ouviram quando ela
exclamou: "Oh, Senhor, por fim chegou a hora de nos vermos face a
face!" Pouco depois, os que estavam em torna de seu leito puderam ouvir
sua última frase: "Morro como filha da Igreja".
Eram 9 horas da
noite do dia 4 de outubro de 1582. Como exatamente no dia seguinte efetuou-se a
mudança para o calendário gregoriano, sendo suprimidos dez dias na contagem dos
anos, a comemoração de sua morte foi fixada para o dia 15 de outubro. Ela foi
sepultada em Alba de Tormes, onde repousam suas relíquias.
* * * * * * *
Em 1614 foi
beatificada pelo Papa Paulo V. Em 1622 foi canonizada por Gregório XV. O Papa
Paulo VI, em 27 de setembro de 1970 proclamou Santa Tereza como Doutora da
Igreja.
* * * * * * *
Santa Teresa de
Ávila é uma das maiores personalidades da mística católica de todos os tempos,
sendo considerada como um dos maiores gênios que a humanidade já produziu.
Ateus e livres-pensadores se veem obrigados a enaltecer sua viva e penetrante
inteligência; reconhecem a força persuasiva de seus argumentos, bem como seu
estilo vivo e atraente, além de seu profundo bom senso.
O grande Doutor
da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório, tinha Santa Teresa em tão alta estima
que a escolheu como patrona, e a ela consagrou-se como filho espiritual,
enaltecendo-a em muitos de seus escritos. (JSG)
Fontes:
CIDADE DO
VATICANO, quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org)
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