• quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

    O primeiro olhar de Jesus

    Antonio Queiroz

    A quem, Senhor Deus menino,
    Dirigir vosso primeiro olhar?
    A quem, senão ao rosto quase divino
    Da criatura vossa mais perfeita,
    A primeira a Vos contemplar:
    Vossa Mãe que nos braços Vos estreita Junto a seu Imaculado Coração,
    No ato mais sublime de adoração?

    Natal é Deus excelso feito menino,
    Deus imenso contido na manjedoura,
    Acessível a nós, acolhedor, pequenino.
    É a Inocência em missão redentora.
    É Deus eterno vivendo no tempo,
    Criador de tudo, nascido ao relento,
    Olhos humanos, vendo o invisível!
    Ó condescendência incompreensível!

    Exultemos! O Rei da Glória é nosso irmão:
    Sua Mãe é também nossa, na pessoa de João!
    Mil coisas antes inexcogitáveis
    Tornaram-se agora indagáveis!
    Senhora, não Vos surpreende a semelhança
    Que Jesus quis ter convosco, por herança?
    Senhor, não Vos surpreende a graciosidade
    De vossa Mãe, que mais parece uma divindade?

    Ao contemplar vosso próprio rosto
    Nesse espelho criado a vosso gosto
    Para refletir em seu imenso conjunto
    Todas as vossas infinitas perfeições,
    Dizei-nos quais sentimentos e afeições
    Experimentam vossos corações tão juntos,
    Olhando-se enlevados e querendo-se bem
    Como jamais alguém quis alguém!
    Amor materno jamais houve tão ardente!
    Filho algum amou sua mãe tão plenamente!

    Como se algo no Céu Vos faltasse,
    Deus fez da Virgem vosso Paraíso
    Para que Ela tanto Vos deleitasse
    Que o exílio fosse vantagem, não prejuízo!
    Para surpreender-Vos no primeiro olhar,
    Deus só não fez vossa Mãe mais perfeita
    Porque mais perfeição seria Vos igualar!
    E isto, a unidade da Trindade rejeita.

    Dissestes que vossas delícias consistem
    No convívio com os filhos do homem!
    Em vosso convívio inefável com Maria,
    Que em vossa humanidade Vos delicia,
    Já saboreais as doces e afáveis primícias
    Do vosso indizível convívio com os Santos
    Que os filhos dos homens Vos darão tantos!
    Nas intimidades dessas primeiras carícias
    Encontrais, deveras, o que faz vossas delícias!

    Ele próprio A criou no Espírito Santo
    E A representou maravilhosamente
    Em todas as suas obras, certamente
    Para, neste olhar, ser Ela vosso encanto!
    Dizem que Deus Pai, ao criar Maria,
    Esgotou sua inesgotável imaginação.
    Ao excogitar a Mãe de vossa dileção,
    Teria esgotado também sua fantasia!

    É em vossa humanidade, unida à divindade
    Na mais perfeita e sublime intimidade
    De vossa natureza humana com a divina,
    Que essa indizível convivência se sublima!
    Sois homem, sem prejuízo da divindade,
    Sois Deus, sem prejuízo da humanidade!
    Este sois Vós, ó glorioso Cristo Jesus!
    Verdadeiro homem, podeis morrer na Cruz,
    Verdadeiro Deus, podeis retomar a vida
    E proclamar a inocência redimida!

    Um Deus assume a miséria humana
    Em tão íntima e profunda união
    Que, ao assumir, redime a miséria e sana!
    Quisestes nascer de nossa descendência,
    Para elevar-nos à inexprimível condição
    De pertencermos à vossa divina ascendência!
    Nosso gáudio é o do prisioneiro indultado;
    Nossa alegria é a do doente incurável, curado!
    Nossa gratidão é cantar vossos louvores,

    Como outrora cantaram anjos e pastores!

    Revista Arautos do Evangelho n.36. dez 2004

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário

    Deixe aqui seu comentário