Antonio Queiroz
A quem, Senhor Deus
menino,
Dirigir vosso primeiro
olhar?
A quem, senão ao rosto
quase divino
Da criatura vossa mais
perfeita,
A primeira a Vos contemplar:
Vossa Mãe que nos
braços Vos estreita Junto a seu Imaculado Coração,
No ato mais sublime de
adoração?
Natal é Deus excelso
feito menino,
Deus imenso contido na
manjedoura,
Acessível a nós,
acolhedor, pequenino.
É a Inocência em missão
redentora.
É Deus eterno vivendo
no tempo,
Criador de tudo,
nascido ao relento,
Olhos humanos, vendo o
invisível!
Ó condescendência
incompreensível!
Exultemos! O Rei da
Glória é nosso irmão:
Sua Mãe é também nossa,
na pessoa de João!
Mil coisas antes
inexcogitáveis
Tornaram-se agora
indagáveis!
Senhora, não Vos
surpreende a semelhança
Que Jesus quis ter
convosco, por herança?
Senhor, não Vos
surpreende a graciosidade
De vossa Mãe, que mais
parece uma divindade?
Ao contemplar vosso
próprio rosto
Nesse espelho criado a vosso
gosto
Para refletir em seu
imenso conjunto
Todas as vossas
infinitas perfeições,
Dizei-nos quais
sentimentos e afeições
Experimentam vossos
corações tão juntos,
Olhando-se enlevados e
querendo-se bem
Como jamais alguém quis
alguém!
Amor materno jamais
houve tão ardente!
Filho algum amou sua
mãe tão plenamente!
Como se algo no Céu Vos
faltasse,
Deus fez da Virgem
vosso Paraíso
Para que Ela tanto Vos
deleitasse
Que o exílio fosse
vantagem, não prejuízo!
Para surpreender-Vos no
primeiro olhar,
Deus só não fez vossa
Mãe mais perfeita
Porque mais perfeição
seria Vos igualar!
E isto, a unidade da
Trindade rejeita.
Dissestes que vossas
delícias consistem
No convívio com os
filhos do homem!
Em vosso convívio
inefável com Maria,
Que em vossa humanidade
Vos delicia,
Já saboreais as doces e
afáveis primícias
Do vosso indizível
convívio com os Santos
Que os filhos dos
homens Vos darão tantos!
Nas intimidades dessas
primeiras carícias
Encontrais, deveras, o
que faz vossas delícias!
Ele próprio A criou no
Espírito Santo
E A representou
maravilhosamente
Em todas as suas obras,
certamente
Para, neste olhar, ser
Ela vosso encanto!
Dizem que Deus Pai, ao
criar Maria,
Esgotou sua inesgotável
imaginação.
Ao excogitar a Mãe de
vossa dileção,
Teria esgotado também
sua fantasia!
É em vossa humanidade,
unida à divindade
Na mais perfeita e
sublime intimidade
De vossa natureza
humana com a divina,
Que essa indizível
convivência se sublima!
Sois homem, sem
prejuízo da divindade,
Sois Deus, sem prejuízo
da humanidade!
Este sois Vós, ó
glorioso Cristo Jesus!
Verdadeiro homem,
podeis morrer na Cruz,
Verdadeiro Deus, podeis
retomar a vida
E proclamar a inocência
redimida!
Um Deus assume a
miséria humana
Em tão íntima e
profunda união
Que, ao assumir, redime
a miséria e sana!
Quisestes nascer de
nossa descendência,
Para elevar-nos à
inexprimível condição
De pertencermos à vossa
divina ascendência!
Nosso gáudio é o do
prisioneiro indultado;
Nossa alegria é a do
doente incurável, curado!
Nossa gratidão é cantar
vossos louvores,
Como outrora cantaram
anjos e pastores!
Revista Arautos do Evangelho n.36. dez 2004
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