O centro juvenil dos Arautos, durante o final de semana, recebeu vários familiares que vieram assistir às apresentações teatrais de suas filhas. Estas apresentaram as histórias: "Ramos seco florido" (a narração dessa história encontra-se abaixo) , "A flor da sinceridade" e o "Gato de botas", sendo este ultimo realizado em fantoches, fazendo reviver aos mais velhos a sua infância, e confirmando a inocência dos mais novos.
No final foi servida uma
deliciosa pizza, onde todos puderam conviver e relembrar as
encenações apresentadas naquele dia.
O ramo seco florido
Ir. Maria Teresa Ribeiro
Matos, EP
Há muito tempo, numa
cidadezinha do antigo Reino da Baviera vivia o Conde Guilherme, nobre
de corpo e de alma, possuidor de grande fortuna. Católico exemplar,
tudo fazia para louvar a Deus: não faltava à Missa um dia sequer,
cumpria todos os Mandamentos, dava esmolas aos pobres e protegia os
desamparados. Sobretudo, queria ter sempre sua alma branca como a
neve e por isso confessava com verdadeiro arrependimento todas as
suas faltas, por menores que parecessem.
Certo dia, passeando pelo
seu vasto trigal, alegrou-se muito ao ver como estava crescido. As
belas espigas ondulavam ao sopro da brisa e brilhavam como milhões
de pedacinhos de ouro cobrindo todo o campo. Entretanto, divisou ele
no fundo daquele imenso tapete dourado uma larga mancha escura. Que
seria aquilo?
Logo constatou tratar-se de
um monte de troncos e galhos secos esmagando parte de sua plantação.
Quem o teria posto aí? Seu vizinho? Sim, só poderia ter sido ele,
concluiu o conde, um tanto apressadamente. Sem pensar duas vezes,
chamou alguns empregados e mandou que jogassem no trigal do vizinho
todos aqueles troncos e ramos. Isto feito, voltou para seu castelo e
esqueceu-se do caso.
* * *
Chegado o tempo, a colheita
foi excelente: os celeiros do conde se abarrotaram de trigo. Um peso
de consciência, porém, lhe turvava a alegria: o pequeno trigal do
vizinho, pensava ele, com certeza tinha produzido menos do que
poderia, por causa do monte de lenha seca ali jogado por sua ordem.
Como pudera ele, dono de imensas plantações, fazer essa maldade com
o vizinho pobre?
Sinceramente arrependido por
essa falta, decidiu ir sem demora confessar-se, para obter o perdão
de Deus. Numa gruta próxima morava um anacoreta famoso por sua vida
santa: dormia sobre a pedra dura, alimentava-se apenas de raízes e
frutas da floresta e passava todo o tempo em oração. Lá se
apresentou, como humilde penitente, o rico e poderoso Conde
Guilherme.
O santo ermitão o recebeu
com bondade e ouviu atentamente sua confissão. Admirou-se por
encontrar um homem com tanta retidão de consciência. E tomou muito
a sério a confissão, pois qualquer pecado, por menor que seja,
constitui uma ofensa a Deus. Deu-lhe alguns bons conselhos e
acrescentou:
— Meu filho, como
penitência, traga-me, no prazo de um ano, um ramo seco florido.
Por fim, traçando um grande
sinal-da-cruz, deu-lhe a absolvição de todos os pecados de sua
vida.
O conde, que tinha chegado
triste e aflito, saiu com a leveza da alma purificada, disposto a
cumprir a penitência, embora esta lhe parecesse muito estranha:
trazer um ramo seco florido... Não seria mais razoável, pensava
ele, o ermitão mandar-me retribuir ao vizinho cem vezes, ou mais, o
valor do prejuízo que lhe causei? Na verdade, essa procura me parece
insensata e inútil, mas, se o confessor mandou, é porque dela Deus
quer tirar algum fruto. Qual será, não sei por enquanto.
Assim, retornando a seu
castelo, trocou as faustosas vestimentas por uma túnica de rústico
tecido, pegou um cajado e saiu à procura do ramo seco florido.
* * *
Andou, andou por meses...
Atravessou florestas, bosques, vales, montes, aldeias e cidades. Por
toda parte encontrou galhos secos; floridos, porém, absolutamente
nenhum! Aqui e ali perguntava a um transeunte:
— Diga-me, já viu um ramo
seco florido? Os passantes olhavam-no com surpresa e se afastavam
rindo, julgando tratar-se de um louco. Ele aceitava essas humilhações
e as oferecia a Nossa Senhora para encontrar mais rapidamente o ramo
seco florido.
Um dia em que descansava
sentado num bosque, viu-se cercado por um bando de assaltantes. Homem
forte e valente, o conde pôs-se imediatamente de pé, disposto a
enfrentar a quadrilha inteira. Mas... não tinha arma alguma, lá
estava como simples pecador cumprindo penitência. Quando notaram que
sua presa não passava, na aparência, de um mendigo, os bandidos
puseram-se e rir e fazer chacotas.
— Por que você se
fantasiou de espantalho?
— Sou um penitente.
— Ah, um penitente…
Certamente você incendiou aldeias, matou crianças e velhos...
Diga-nos, afinal, que crimes você cometeu?
— Joguei um monte de
árvores secas na plantação de meu vizinho, prejudicando assim sua
colheita. E o confessor mandou-me, por penitência, levar-lhe um ramo
seco florido no prazo de um ano.
Dando uma grande gargalhada,
os bandidos se afastaram, à procura de presa mais lucrativa.
* * *
Um deles, porém, em vez de
rir, saiu muito preocupado com o seguinte pensamento: “Por uma
pequena falta, este homem recebeu dura penitência! E eu, o que
mereço pelos meus roubos, assassinatos e tantos outros crimes?
Quanto à justa punição nesta terra, não é difícil escapar,
mas... e os castigos eternos do inferno?”
Movido por esse bom
sentimento, o salteador voltou e fez ao penitente maltrapilho um
breve relato de sua criminosa vida. No final, suplicou-lhe:
— Não quero morrer sem me
reconciliar com Deus. Tenha pena de mim, ajude-me!
Comovido e contente por ver
a graça atuando naquele miserável, o conde conduziu-o ao santo
anacoreta.
Este os acolheu com paternal
bondade. O ladrão arrependido chorava sem cessar. E o nosso
penitente, também em lágrimas, disse:
— Reverendo Padre, aqui
está um pobre homem morto, pois perdeu a vida da graça; no entanto,
deseja recuperá-la, recebendo de vós a absolvição. Quanto a mim,
não consigo cumprir minha penitência: depois de um ano de procura,
nada encontrei que se pareça a um ramo seco florido.
O ermitão olhou-o com
doçura e disse:
— Meu filho, este
criminoso é um ramo seco pelo pecado, no qual nasceu a belíssima
flor do arrependimento. E você foi o instrumento escolhido por Deus
para plantar nele essa flor. Veja, aqui está um ramo seco florido,
trazido por você!
O Conde exultou ao ouvir
essas palavras, pois compreendeu, num relance, que Nosso Senhor havia
guiado todos os seus passos durante aquele ano inteiro de caminhada
incessante. E que aquela procura de um ramo seco florido —
aparentemente inútil e insensata — tinha um alto objetivo:
encontrar uma alma morta pelo pecado e levá-la até a fonte da vida.
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho
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