• segunda-feira, 30 de setembro de 2013

    “Quero passar o meu céu fazendo o bem na terra”

    Santa Teresinha do Menino Jesus
    Em sua curta existência, atingiu elevado grau de santidade. Por seus imensos desejos e sua vida de sacrifícios, foi missionária sem sair do convento, e tornou-se Padroeira das Missões. Abriu uma nova via espiritual e foi proclamada Doutora da Igreja.
    Irmã Juliane Campos, EP
    Era 30 de setembro de 1897. Por volta das 16 horas, a comunidade do Carmelo de Lisieux, na França, reuniu-se junto ao leito de uma religiosa que, com apenas 24 anos de idade, parecia entrar em agonia. À hora do Ângelus, ela fitou longamente a Virgem do Sorriso, que a protegera sempre em sua curta existência. Segurava firmemente o crucifixo.
    Notando que a enferma parecia ainda tardar um pouco mais nesta terra, a superiora dispensou a comunidade. Logo após, porém, soou novamente o sino da enfermaria e as religiosas retornaram às pressas, a tempo de presenciar uma sublime cena.
    Fitando o crucifixo, a agonizante pronunciou esta breve frase: “Meu Deus... eu... Vos amo!”. Seu semblante se iluminou, parecia estar em êxtase. Durante alguns instantes, fixou o olhar num ponto pouco abaixo da imagem de Nossa Senhora que tinha à cabeceira. Depois cerrou os olhos e, com um sorriso nos lábios, entregou sua alma ao Criador.
    Santidade fulgurante e... despercebida
    Era costume a madre superiora fazer, durante as exéquias, um pequeno discurso sobre a religiosa falecida, exaltando suas virtudes e as obras por ela realizadas dentro das paredes benditas do Carmelo. Porém, a grande santidade da Irmã Teresinha passara de tal modo despercebida que duas freiras comentaram entre si: “Que irá dizer nossa Madre desta irmãzinha que levou uma vida tão inexpressiva entre nós?”
    Não podiam imaginar que ia começar a prodigiosa obra póstuma desta desconhecida carmelita, Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face. Sem ter jamais saído do convento, foi declarada Padroeira das Missões. E hoje a mestra da “pequena via” de santificação está proclamada Doutora da Igreja.
    Infância pervadida de piedade
    Em 2 de janeiro de 1873, nasceu Maria Francisca Teresa Martin, em Alençon, França. De seus santos pais — Louis e Zélie Martin, que foram proclamados veneráveis em 1994 e estão a ponto de serem beatificados — aprendeu a amar a Jesus e a Maria. Ficou órfã de mãe aos 4 anos. Mas, nesse pouco tempo de convívio, recebeu muito carinho materno.
    Aos dois anos, ouviu dizer que sua irmã Paulina seria religiosa. Nessa idade, ela não sabia bem de que se tratava, mas decidiu: “Também eu serei religiosa”. E acrescenta em suas memórias: “Depois disto, nunca mudei de resolução”. Pouco adiante, afirma: “Desde a idade de três anos, comecei a não recusar na- da que o bom Deus me pedisse.”
    Depois da morte da mãe, escolheu sua irmã Paulina para ser sua “mãezinha”. Esta — juntamente com o pai e as outras três irmãs — cuidou da caçulinha com extrema- do desvelo, dando-lhe uma educação afetuosa e firme.
    A família mudou-se para Lisieux, estabelecendo-se numa casa denominada “Buissonnets” (moitinhas). Perto, residia um tio de Santa Teresinha, o Sr. Guérin, cuja virtuosa esposa se encarregou de dar assistência às sobrinhas órfãs de mãe.
    Uma cura milagrosa
    Alguns anos após, Paulina entrou para o Carmelo. Isto significou nova perda para Teresinha, então com nove anos de idade, mas fortaleceu sua convicção de que também ela seria carmelita. Nesta época, acometeu-a uma estranha enfermidade que, além dos incômodos físicos, causava-lhe terríveis sofrimentos psíquicos. “Eu dizia e fazia coisas que eu não pensava. Quase sempre eu parecia delirar, dizendo palavras sem sentido”, narra ela. Segundo os diagnósticos médicos, essa doença poderia deixá-la louca se não a levasse à morte.
    Nossa Senhora a curou, como ela própria relata:
    “Não encontrando socorro algum na terra, voltei-me para minha Mãe do Céu e Lhe supliquei com todo ardor que Ela tivesse enfim piedade de mim. De repente, a Santíssima Virgem pareceu-me bela, tão bela que nunca eu tinha visto nada tão formoso. Sua face irradiava inefável bondade e ternura, mas o que me penetrou fundo na alma foi seu sorriso arrebatador. Então, dissiparam-se to- dos os meus sofrimentos. (...) Oh! — pensei comigo — a Santíssima Virgem sorriu-me! Como sou feliz...” (Manuscritos, § 94).
    Santa decidida e audaciosa
    Em lugar de brincar como as outras crianças, Teresinha preferia ter sua alma posta nos panoramas da contemplação. Gostava muito de ler, sobretudo certas histórias de cavalaria. Lendo a narração dos feitos heróicos de Santa Joana D’Arc, sentia em si o mesmo ardor e a mesma inspiração celestial, com um forte desejo de imitá-la. Com essas leituras, recebeu uma graça que considerou uma das maiores de sua vida: a compreensão de que nascera para a glória dos Céus, nascera para ser santa!
    Decidiu então entrar logo no Carmelo de Lisieux, onde já se encontravam suas irmãs Paulina e Ma- ria. Falou com seu bondoso pai que, apesar de sofrer com essa separação, consentiu, considerando-se privilegiado pelo fato de Jesus tomar por esposa mais uma de suas filhas.
    Mas não era comum receber uma noviça de apenas 15 anos... Teresinha não desanimou face à negação do padre superior do Carmelo. Manifestou-se decidida a recorrer ao bispo e mesmo ao Papa, se fosse preciso.
    E assim o fez! Após um infrutífero recurso ao bispo, ela foi a Roma e, ajoelhada aos pés de Leão XIII, com os olhos marejados de lágrimas, expôs seu desejo:
        Santíssimo Padre, venho pedir-vos uma grande graça!
    Surpreso, este inclinou-se para escutar bem, sorriu ao ouvir seu pedido e respondeu-lhe que os superiores decidiriam. Ela contra-argumentou que, com uma palavra dele, todos consentiriam.
    — Vamos ver... Entrareis se o bom Deus quiser!... — disse o Papa.
    Lutas na vida carmelita
    E o bom Deus quis. Três meses depois, aquela valente jovem transpôs os umbrais do Carmelo, adotando o nome de Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, porque lhe calavam fundo na alma a infância e a Paixão do Salvador.
    Na confissão geral que fez antes de receber o hábito de noviça, ouviu do confessor, Padre Pichon, essa consoladora afirmação: “Na presença do bom Deus, da Santíssima Virgem e de todos os Santos, de- claro que jamais cometeste um só pecado mortal.”
    Mas, como tantas vezes ocorre com os Santos, as outras freiras não se davam conta da grandeza de alma daquela carmelita que se fazia tão pequena. Em toda a sua vida religiosa, deu sempre bons exemplos e aceitou com agrado todas as humilhações. Sem nunca desanimar, procurava fazer a vontade de Deus prestando serviço às demais, e tinha sempre um sorriso para todas.
    Travou incessante luta para vencer-se a si mesma, sobretudo nos problemas próprios à vida comunitária. Por exemplo, no recreio, procurava conversar com aquelas que eram de convívio mais difícil; suportava pacientemente o irritante ruído que fazia uma freira, quando estavam no coro; não se quei- xava quando uma irmã de hábito lhe respingava água suja na hora de lavar a roupa. Sem cessar, oferecia a Deus esses inumeráveis pequenos sacrifícios, como oração e oblação.
    Iniciou ela, assim, uma nova via espiritual: a “pequena via”, a via do abandono nas mãos de Deus, a via da infância espiritual, que to- das as almas, até mesmo as mais fracas, podem percorrer e, assim, santificar-se. Tudo fazia por amor a Deus. E sabia que só com auxílio da graça venceria as dificuldades. Gostava de dizer: “Tudo é graça!”
    Padroeira das missões
    Enclausurada nos muros do Carmelo, desejava conquistar o mundo inteiro para Jesus:
    “Tenho vocação de ser Apóstolo... Quisera percorrer a terra, apregoar teu nome e implantar em terra de infiéis tua gloriosa Cruz. Mas, ó meu Bem-Amado, uma única mis- são não me bastaria. Quisera anunciar, ao mesmo tempo, o Evangelho pelas cinco partes do mundo, até nas ilhas mais remotas... Quisera ser missionária não só por alguns anos, mas até a consumação dos séculos... Mas, acima de tudo, quisera, ó meu ama- do Salvador, por Ti derramar meu sangue até a última gota...” (Manuscritos, § 251).
    Por suas ardentes orações e contínuos sacrifícios, pôs em obras esses anelos. E foi proclamada pelo Papa Pio XI, em 1927, padroeira principal de todos os missionários e das missões existentes em todo o mundo.
    Vítima expiatória
    Compreendendo que poderia realizar todos os seus imensos desejos de trabalhar pela salvação das almas e glorificação da Santa Igreja, e, sobretudo, de “viver num ato de perfeito Amor”, fez em 1895 o sublime ato de “oferecimento como vítima expiatória ao amor misericordioso de Deus”.
    E a Divina Providência aceitou o oferecimento.
    Na noite da Sexta-feira Santa de 1896, depois de ficar junto ao Santíssimo Sacramento até meia- noite, recolheu-se Santa Teresinha em sua cela. Mal colocou a cabeça no travesseiro, sentiu uma golfada de algo efervescente que lhe subia pela garganta e chegava aos lábios. Não sabia o que era, mas intuiu que fosse uma hemoptise. Seria tuberculose? De manhã, verificou que se confirmava sua suspeita: estava tuberculosa.
    Uma alegria invadiu sua alma! Estava aceito o oferecimento... Sentia que Jesus, no dia de sua Paixão e morte, lhe dava o primeiro sinal de que logo a chamaria para junto d’Ele.
    Passou um ano de muitas provações e sofrimentos. Sobretudo a prova da “noite escura da alma”, de que falam os autores místicos, a prova da Fé. Sua alma estava em completa aridez. Parecia que Deus a tinha abandonado. Mas nunca perdeu a tranquilidade e a alegria.
    A 19 de agosto, comungou pela última vez. Um mês antes de sua morte, o sacerdote que a atendeu em confissão comentou, muito comovido, ao sair da enfermaria: “Que bela alma! Ao que parece, está confirmada em graça.”
    Do Céu, Santa Teresinha cumpriu sua promessa de fazer o bem na terra. Poucos santos tiveram uma irradiação tão grande em tão pouco tempo. Como Moisés abriu o Mar Vermelho para a passagem do povo eleito, assim o Anjo do Carmelo abriu para as futuras gerações, tão débeis e necessitadas, uma esplendorosa estrada para o Céu!
    A Igreja celebra sua festa no dia 1 de outubro. Por concessão da Santa Sé, os Arautos do Evangelho têm o privilégio de lucrar nesse dia uma Indulgência Plenária, observadas as condições de costume.
    Revista Arautos do Evangelho, nº 22, outubro 2003



     





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