• domingo, 20 de outubro de 2013

    O eco da voz de Deus

    Pe. Pedro Morazzani Arráiz, EP
    Servem os sinos apenas para chamar os fiéis à casa do Senhor? Utilizados inicialmente só com esta finalidade prática, eles acabaram se convertendo em sinal e veículo de graças. Sua bênção é, hoje em dia, um sacramental.
    No início do século V, um varão de Deus, São Paulino, bispo de Nola, teve a inspirada ideia de utilizar sinos para chamar ao serviço divino os fiéis de sua diocese. Surgiram assim as palavras sino e campana, originadas de signum campanum (sinal da Campânia, região da Itália onde se encontra a cidade de Nola).
    Ávidos de símbolos e cerimônias que sacralizassem a dura vida quotidiana, os católicos instalaram sinos em todas as igrejas e mosteiros da Europa. O Papa Sabiniano, que ocupou o Trono de São Pedro de 604 a 606, decretou ser necessário o seu uso em todas as paróquias da Cristandade.
    Não muito depois de ecoarem seus sons pelos ares do mundo cristão, os sinos tornaram-se inseparáveis símbolos das graças obtidas pelos fiéis no interior dos templos. Esta talvez seja uma das razões do aparecimento do costume, que até hoje perdura, de benzer os sinos antes de erguê-los ao alto das torres. Mãe sempre solícita, a Igreja constituiu em sacramental esta bênção (cfr. CIC, 1672), tornando o badalar dos sinos um veículo de graças para o povo de Deus, atraindo os anjos, afugentando os espíritos malignos, transmitindo seus próprios sentimentos quando ela suplica ou agradece, quando chora ou se rejubila.
    No bronze de muitos sinos, pode-se ver uma singela inscrição latina que bem resume as mais importantes funções a eles conferidas pela Igreja:
    Laudo Deum verum, plebem voco, congrego clerum, defunctos ploro, nimbum fugo, festas decoro. — Louvo o Deus verdadeiro, convoco o povo, congrego o clero, choro os defuntos, dissipo as tempestades, dou brilho às festas.”
    Suspensos entre o céu e a terra, no alto dos campanários, onde não os alcança a agitação do mundo, são os sinos uma permanente imagem da vocação de todos os verdadeiros discípulos do Divino Mestre: sempre voltados para a contemplação de Deus e considerando os vaivéns do acontecer humano desde os mais altos píncaros da Fé, atraindo infatigavelmente os homens para a verdadeira Religião e proclamando sem cessar a glória infinita de Deus, nosso Senhor.
    Por isso, tocam os sinos para a quotidiana reza do Ângelus e ressoam durante a solene bênção do Santíssimo Sacramento; repicam com júbilo ao ser entoado o Glória nas principais festas, e logo após a Consagração, ao ser elevada a Sagrada Hóstia, segundo o costume instituído pelo Papa Gregório IX, em 1240.
    Mas não só nos momentos de alegria seus sons se fazem ouvir. Durante o transe supremo da agonia, quando o destino eterno de uma alma se decide, eles tangem lentamente, avisando a comunidade que um fiel trava nesta Terra seu último combate, implorando assim a todos que orem pela salvação de um irmão.
                                                                               * * *
    Som dos sinos, apelo da Igreja, eco sagrado da voz do próprio Deus!
    Voz às vezes grave e severa, com freqüência jubilosa e maternal, sempre atraente, majestosa e cheia de paz.
    Bem-aventurados os povos cujas horas, dias e anos transcorrem marcados pelo sacral som dos sinos das igrejas! Se eles não fecham seus corações a esta voz e, pelo contrário, pulsam em uníssono com o ressoar dos sinos, terão um mesmo sentir com a Santa Igreja de Deus: alegrar-se-ão com ela nos dias de pompa e de glória; contritos e humildes permanecerão nas épocas de penitência e de dor; cheios de confiança aguardarão durante os períodos de espera e, finalmente, cruzarão os umbrais da eternidade carregados nos braços desta Mãe amorosíssima, a Santa Igreja Católica Apostólica e Romana.
    Revista Arautos do Evangelho n.20 ago 2003

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