Pe. Pedro Morazzani Arráiz,
EP
Servem os sinos apenas para
chamar os fiéis à casa do Senhor? Utilizados inicialmente só com
esta finalidade prática, eles acabaram se convertendo em sinal e
veículo de graças. Sua bênção é, hoje em dia, um sacramental.
No início do século V, um varão de Deus, São
Paulino, bispo de Nola, teve a inspirada ideia de utilizar sinos
para chamar ao serviço divino os fiéis de sua diocese. Surgiram
assim as palavras sino e campana, originadas de signum campanum
(sinal da Campânia, região da Itália onde se encontra a cidade de
Nola).
Ávidos de símbolos e cerimônias que sacralizassem a
dura vida quotidiana, os católicos instalaram sinos em todas as
igrejas e mosteiros da Europa. O Papa Sabiniano, que ocupou o Trono
de São Pedro de 604 a 606, decretou ser necessário o seu uso em
todas as paróquias da Cristandade.
Não muito depois de ecoarem seus sons pelos ares do
mundo cristão, os sinos tornaram-se inseparáveis símbolos das
graças obtidas pelos fiéis no interior dos templos. Esta talvez
seja uma das razões do aparecimento do costume, que até hoje
perdura, de benzer os sinos antes de erguê-los ao alto das torres.
Mãe sempre solícita, a Igreja constituiu em sacramental esta bênção
(cfr. CIC, 1672), tornando o badalar dos sinos um veículo de graças
para o povo de Deus, atraindo os anjos, afugentando os espíritos
malignos, transmitindo seus
próprios sentimentos quando ela suplica ou agradece, quando chora ou
se rejubila.
No bronze de muitos
sinos, pode-se ver uma singela inscrição latina que bem resume as
mais importantes funções a eles conferidas pela Igreja:
“Laudo Deum
verum, plebem voco, congrego clerum, defunctos ploro, nimbum fugo,
festas decoro. — Louvo o Deus verdadeiro, convoco o povo,
congrego o clero, choro os defuntos, dissipo as tempestades, dou
brilho às festas.”
Suspensos entre o
céu e a terra, no alto dos campanários, onde não os alcança a
agitação do mundo, são os sinos uma permanente imagem da vocação
de todos os verdadeiros
discípulos do Divino Mestre: sempre voltados para a contemplação
de Deus e considerando os vaivéns do acontecer humano desde os mais
altos píncaros da Fé, atraindo infatigavelmente os homens para a
verdadeira Religião e proclamando sem cessar a glória infinita de
Deus, nosso Senhor.
Por isso, tocam os
sinos para a quotidiana reza do Ângelus e ressoam durante a solene
bênção do Santíssimo Sacramento; repicam com júbilo ao ser
entoado o Glória nas principais festas, e logo após a Consagração,
ao ser elevada a Sagrada Hóstia, segundo o costume instituído pelo
Papa Gregório IX, em 1240.
Mas não só nos
momentos de alegria seus sons se fazem ouvir. Durante o transe
supremo da agonia, quando o destino eterno de uma alma se decide,
eles tangem lentamente, avisando a comunidade que um fiel trava nesta
Terra seu último combate, implorando assim a todos que orem pela
salvação de um irmão.
*
* *
Som dos sinos, apelo da Igreja, eco sagrado da voz do
próprio Deus!
Voz às vezes grave e severa, com freqüência jubilosa
e maternal, sempre atraente, majestosa e cheia de paz.
Bem-aventurados os povos cujas horas, dias e anos
transcorrem marcados pelo sacral som dos sinos das igrejas! Se eles
não fecham seus corações a esta voz e, pelo contrário, pulsam em
uníssono com o ressoar dos sinos, terão um mesmo sentir com a Santa
Igreja de Deus: alegrar-se-ão com ela nos dias de pompa e de glória;
contritos e humildes permanecerão nas épocas de penitência e de
dor; cheios de confiança aguardarão durante os períodos de espera
e, finalmente, cruzarão os umbrais da eternidade carregados nos
braços desta Mãe amorosíssima, a Santa Igreja Católica Apostólica
e Romana.
Revista Arautos do Evangelho n.20 ago 2003
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